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 DIOCESE APOSTÓLICA ANGLICANA DE SÃO PAULO


História do Anglicanismo

A Igreja Anglicana é resultado do desdobramento mundial do Cristianismo originalmente estabelecido nas Ilhas Britânicas. No primeiro século da Era Cristã essas ilhas se constituíam em uma província do Império Romano, denominada de Britannia. A Igreja na Inglaterra veio, desde então, conhecer três fases distintas:

•  A primeira foi a Fase Celta : que vai do século I ao século VII.

Com a perseguição aos cristãos da Gália (hoje França) no ano 77, muitos fugiram para as Ilhas Britânicas. Por outro lado, soldados, funcionários civis e comerciantes cristãos romanos estiveram naquela província e comunicaram o Evangelho, que teve ampla acolhida entre os Celtas, particularmente na Irlanda, Escócia, Gales e norte da Inglaterra (angliaterra = terra dos anglos). Há tradições e peças arqueológicas, além do registro da presença de bispos britânicos ao Concílio de Arles, em 314. Floresceu ali, por sete séculos, uma Igreja cristã autônoma, sem vínculos com a Igreja de Roma, centrada nos mosteiros e na autoridade regional dos seus Abades, com os Bispos como missionários, realizando um trabalho apostólico e sacramental. Uma Igreja missionária, que foi responsável pela evangelização da Alemanha e da Escandinávia. Com a saída das tropas romanas, o centro e o sul da Inglaterra foram invadidos por povos não-cristãos, como os jutos, os anglos e os saxões, que erradicaram a Igreja naquelas regiões, preservada, porém, nas demais. O Papa Gregório, o Grande, resolveu, então, enviar Agostinho e 40 monges beneditinos, em 597, para, estabelecendo-se em Cantuária, evangelizar os povos daquelas regiões, e procurar unir a Roma a Igreja Celta, respeitando-se, ao máximo, os seus usos e costumes. Cerca de 10.000 pessoas se converteram na região de Cantuária, e Agostinho foi sagrado Bispo.

•  A segunda foi a Fase Católico-Romana : que vai do século VII ao século XVI.

No Concílio de Whitby, em 663, após longas negociações, a Igreja Celta aceita se submeter à autoridade papal. Uma segunda Sé Diocesana, no coração do Cristianismo Celta, viria, posteriormente, a ser estabelecida, na cidade de York. Os costumes dos Celtas cristãos foram preservados, a distância geográfica das ilhas e a crescente autoridade dos seus reis concorreram para a manutenção de laços limitados com a Igreja de Roma. Além do mais, já no século XIV, a Inglaterra conheceu o mais importante episódio da Pré-Reforma, liderada pelo professor de Oxford, John Wycliffe , que condenava os desvios romanos, defendia a divulgação da Bíblia, e criava uma ordem leiga de irmãos mendicantes (formada, em sua maioria por estudantes de Oxford, de famílias aristocráticas), os Lolardos, que, disseminando a fé evangélica, foram perseguidos por um século e meio.

•  A terceira foi a Fase Reformada : que vai do século XVI aos nossos dias.

As idéias protestantes tiveram entusiástica acolhida entre professores e estudantes das Universidades de Oxford e Cambridge, e entre parcela considerável do clero, inclusive da hierarquia. Havia um crescente nacionalismo em toda Europa , com o surgimento dos países independentes do Sacro-Império Germânico-Romano, na área temporal, e do Papado, na área espiritual. Havia, também, uma grande insatisfação com o pagamento de impostos ao Imperador e ao Papa, bem como contra o fato de a Igreja de Roma ser detentora de vastas propriedades e privilégios. O mapa religioso da Europa da época foi estabelecido por decisões governamentais (dentro do princípio “A Religião do Rei é a Religião do Reino” ), ou pela força das armas (Guerra dos Cem Anos). A Reforma da Igreja Cristã na Inglaterra, nesse contexto, viria, pois, com Henrique VIII, sem ele, ou contra ele. O Anglicanismo, pois, não foi fundado por aquele rei. A instabilidade política inglesa resultou em vários avanços e recuos em relação à Reforma Protestante:

•  Ruptura com o Sacro-Império e a Igreja de Roma com Henrique VIII, em 1534 (após ele, sua esposa e o Arcebispo de Cantuária terem sido excomungados pelo Papa), em Atos deliberados pelo Parlamento;

•  O breve reinado de seu filho Eduardo VI aprofunda o caráter protestante da Igreja da Inglaterra;

•  Ele foi sucedido por sua meia-irmã Maria, denominada de “a sanguinária” (por mandar executar 250 Sacerdotes, alem de Arcebispos e Bispos), que re-vincula a Igreja da Inglaterra à Igreja Romana;

•  Esta foi sucedida por sua meia-irmã Elizabeth, que rompeu de novo com Roma e apoiou uma reforma moderada;

•  Os breves e confusos reinados de Jaime I e Carlos I (que queriam impor o Presbiterianismo hegemônico na Escócia à Inglaterra);

•  A ditadura militar presbiteriana do general Oliver Cromwell;

•  Foi substituída pelos reinados de Carlos II e Jaime II (que queriam restabelecer o catolicismo romano);

•  Por fim, a independência política da Inglaterra e a consolidação da Igreja Anglicana como uma Igreja reformada, autônoma, finalmente – e só então – se deu com a “Revolução Gloriosa” , de 1688, liderados pelo príncipe Guilherme de Orange (protestante holandês) casado com Maria, filha de Jaime II, que implantou o Parlamentarismo, e retorna aos princípios religiosos do período elizabethano.

Os dois principais pensadores da Reforma Inglesa foram o Arcebispo de Cantuária e mártir (queimado vivo por ordem de Maria, a sanguinária ) Thomas Cranmer , compilador do Livro de Oração Comum (LOC) e o teólogo Richard Hooker , autor do clássico “A Lei da Política Eclesiástica” . O Anglicanismo situou-se, desde então, como uma Igreja Católica Reformada nacional, e uma “via média” entre os extremos de Roma e de Genebra. Com a Reforma Protestante, a Igreja na Inglaterra se tornou a Igreja da Inglaterra.

A Igreja da Inglaterra, dos séculos XVI ao XIX, foi se expandindo, por todo o mundo com o Império Britânico (o maior da história humana), e que teve o seu apogeu no reinado da rainha Vitória, e, em seguida, pela ação denodada das agências missionárias, dentro e fora do Império Britânico (hoje presente em 164 países). As primeiras Províncias que surgiram, além da Igreja da Inglaterra, foram a Igreja Episcopal da Escócia (onde a Igreja da Escócia, oficial, é Presbiteriana) e a Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos da América (PCUSA), fruto da independência daquele país, cujos bispos, por sua vez, foram sagrados pelos bispos escoceses. Essas duas novas Províncias, por sua vez, começaram a enviar os seus próprios missionários para o estrangeiro.

O Anglicanismo no Brasil, por sua vez, é resultado de três fontes distintas:

•  A primeira foi a das Capelanias Consulares Britânicas autorizadas a funcionar pelo Tratado de 1810 com o Reino de Portugal, destinadas à assistência espiritual dos súditos de Sua Majestade, e em língua inglesa. O primeiro templo foi “Christ Church” inaugurado, no Rio de Janeiro, em 1819. Outros viriam a ser construídos em: Niterói, São Paulo, Santos, São João Del Rey (MG), Salvador, Recife e Belém. Antes, em 1805, o missionário e mártir Henry Martin havia aportado em Salvador, a caminho da Índia e da Pérsia, onde morreria, escrevendo, então, em seu diário: “Quando será este belo país libertado da idolatria e do cristianismo espúrio? Cruzes há em abundância, mas quando será aqui anunciada a doutrina da cruz?” . O primeiro missionário enviado pelos EUA, Rev. William Cooper , teve seu navio naufragado, desistiu e regressou ao seu país. O vendedor de Bíblias (colportor) Rev. Richard Holden , evangelizou em Belém e em Salvador (1860-1864);

•  A segunda foi a formada pela imigração japonesa para os Estados de São Paulo e Paraná, onde chegaram a constituir a maioria das Paróquias, com descendentes até os nossos dias;

•  A terceira , e mais importante, foi a vinda em 1889, de um grupo de missionários , recém-formados pelo Seminário de Virgínia, de linha evangélica, liderada pelo Rev. Lucien Lee Kinsolving , primeiro Bispo do Brasil, James Watson Morris, William Cabel Brown e John Meem , que centralizaram seus esforços no Estado do Rio Grande do Sul, abrindo um sem número de Paróquias, Missões e obras sociais. De 1890 a 1949, com os bispos Kinsolving (1899-1926) e Thomas (1927-1949), o anglicanismo missionário conheceu uma fase de grande dinamismo no Brasil. Em 1907 havíamos deixado de ser um ente autônomo e nos tornado um Distrito Missionário da Igreja dos EUA. Com a saída do Bispo Thomas , foram criadas três Dioceses, com sede em Porto Alegre , Santa Maria e Rio de Janeiro, e passamos a sofrer uma mudança de linha do Evangelicalismo para o Anglo-Catolicismo. Na década de 1960 nos emancipamos como 19ª Província da Comunhão Anglicana (Igreja Episcopal Brasileira), tivemos o primeiro Primaz, Bispo Egmont Machado Krischke , e começamos a receber a influência do Liberal-Catolicismo, do Movimento Ecumênico, da Teologia da Libertação (anos 70), e do Liberalismo Pós-Moderno (anos 90), nos afastando da comunidade protestante evangélica na qual estivéramos integrados desde o início, resultando, em decorrência, lamentavelmente, em crescente estagnação e declínio.